NEUROMARKETING E NEUROBUSINESS (disciplina de pós - IPOG)
- Lu_rsr
- 19 de jun. de 2023
- 6 min de leitura
Material desenvolvido para atividade prévia - módulo 11 - Master em NeuroArquitetura IPOG
Por Luciana R. S. Rodrigues em 13/01/2023
Se muitos assumem que cliente é aquele que adquire, paga, compra, usufrui e, portanto, elementar para um negócio, poucos se lembram do sentido, do contexto, da razão para uma decisão, para uma adesão, para uma compensação, para uma experiência, para uma ressignificação. Poucos se lembram da alma de um empreendimento. Cliente, para o mercado, é aquele que eleva a entrada de capital nas contabilidades, que aumenta os lucros quando seduzido por outros itens diferentes àquele que ele procura naquele momento ou necessita para sua sobrevivência. Nos cegamos para quem ofertamos as nossas competências, nosso empenho, nossas contribuições. Embora nos relacionemos com itens de afeto e necessidades de afazeres, não cabemos em um conceito designado e limitado pelo mercado (cliente) – somos seres humanos, dependentes uns dos outros e, principalmente, pertencentes a um ecossistema que continuamos a fragmentar e devastar. Nos cegamos ao porquê promovemos nossos comércios e serviços. Nos reduzimos a estereótipos e materialidades supérfluas na falsa impressão de que, assim, conseguimos dominar nossas ações capitalistas, transformando seres vivos em banco de dados e comportamentos humanos em aglomerados de gráficos irreversíveis.
Como, então, definir um cliente quando nossa Alma serve a todos, assim como aceita a todos – em contribuição, em fortalecimento, em união ao desenvolvimento da nossa espécie; em retribuição, em respeito, em harmonia aos demais seres e elementos que deixaram e deixam de existir para que possamos ser? Estabelecer públicos-alvo nos limita em Humanidade. Deixamos de olhar para todos por acreditar que o que nos leva para uma zona de conforto com o maior lucro possível, no menor tempo imaginável, é mérito de História e fórmula para realização e felicidade. De quem? Para quem? Dos tais públicos-alvo ou dos egos, dos empreendimentos? Por quanto tempo? Sob quais sacrifícios? Astúcia, acúmulo, exploração. Daquilo que ilude nossa mente, nos rouba a identidade, definha nossa sociedade.
Nós somos um. Não existe concorrência onde há união por uma causa maior, onde há propósito para a evolução da nossa Espécie, onde há respeito ao nosso Tempo, ao nosso Ambiente, ao nosso Ecossistema. Nos complementamos em nossas idades, vivencias, culturas, habilidades, personalidades, sabedorias. A inovação não parte de uma ideia, mas, sim, da disponibilidade diária para compreendermos a real necessidade da nossa sociedade, do nosso mundo, da nossa realidade em escuta ativa, em estado de presença, empatia, compaixão. A vida não é estática. É movimento. Padronizar nos ensina a nadar; capacitar nos ensina a percorrer maiores distâncias; mas somente nossa Natureza nos desenvolve os sentidos para encontraremos a Terra, a Vida, a Prosperidade. Nossa Essência Humana, nossa Força ecossistêmica, nossa Integridade cósmica.
Apresentar uma proposta não se limita a horas de discursos e visualização de imagens. Cada pessoa um tempo e uma forma de perceber, de se envolver, de se dispor ao outro e ao mundo. O esforço é necessário dos dois (ou demais) indivíduos participantes. Há uma razão pela busca, há uma razão para a oferta: ser orientado por alguém que possua conhecimentos desconhecidos a ele e, respectivamente, auxiliar ao próximo a partir dos conhecimentos e vivencias próprias e coletivas. Mas razão não é ação. Para agirmos, ambos precisam contribuir para a construção do novo. Novo que sempre será único – ao partirmos da compreensão das particularidades que nos são apresentadas. Retroalimentação que não se dá por um dia agendado, nem se encerra ao fim das tarefas programadas. O movimento apenas flui para o sentido do respeito entre as possibilidades, as escolhas e os afetos ponderados. Nem o desconhecimento, nem a imaginação são fatores de conflito quando a prudência prevalece – muito pelo contrário, nutrem a inovação natural e contínua. Por meio do entendimento de tempo, situação real, necessidades, valia, contexto e propósitos alinhados entre os envolvidos a proposta se autossustenta e se regenera.
Mas qual o valor de um trabalho quando não compreendemos os valores em todos os outros ofertados? Buscamos diferenciais quando sequer entendemos o que supostamente nos iguala. Cada um de nós possui suas particularidades, o que, por natureza, nos resguarda da mesmice, da padronização, do estático. Mas partimos do olhar de única profissão (a que exercemos) onde os profissionais com mais tempo de exercício inquestionavelmente recebem maior mérito, renome, valor. Em relação a que? Em relação a quem? Tão logo chegamos no sonho de aposentadoria. Como deixar de exercer um ofício que dedicamos anos de nossas energias em conhecimento, análise, aplicação, aperfeiçoamento pode ser propósito valorizado em uma sociedade? Não mais nos depreendemos em prol de nossa evolução, de nossa espécie, de nosso mundo. Optamos por reger desordens que venham a nos beneficiar, nos apropriando do conhecimento para que essa orquestra se passe desapercebida em sua sonoridade contextual, se passe por bela aos olhos do consciente, embora carregue angústias, dores e sofrimentos invisíveis, silenciosos, inconscientes dentro de um conjunto, em escolhas e ações coletivas. Não temos parâmetros humano, ecológico, social, político. Cada um de nós tem seu tempo, sua forma de contribuir, assim como de receber e descansar. Porém um não invalida o outro, como insistimos em defender e aplicar. Optamos por vangloriarmo-nos sobre os defeitos e desconhecimento dos outros, sobre a distância, a desconectividade, a superficialidade que o mundo digital nos apresentou. Desprezamos nossas virtudes e nos cegamos às reais oportunidades de aprendizagem, crescimento, valorização de quem somos – seres Vivos, seres Sociais, seres Humanos. Definimos um produto ou um serviço como estrutura, cerne, alma quando nada do que ofertamos diz respeito a nós, mas aos outros, à nós, ao mundo enquanto frutos do amanhã. Definimos metas e cronogramas como se as primaveras todos os anos se comportassem da mesma forma. Como se nós fossemos os mesmos, dia após dia; como se o mundo não se movesse e se limitasse a uma planificação em atlas; como se o Sol não existisse e fosse substituível por uma fonte luminosa ou térmica elétrica. Nós estamos nos destruindo com uma imagem falsa, cada vez mais sedutora para o nosso inconsciente, de que dominamos ao mundo e aos fenômenos porque temos conhecimento sobre partículas de um universo. Esquecemos do que nos traz ao presente, de quem somos e quão interligados somos aos micros e macros organismos: a vida, o movimento, o compartilhamento, o sacrifico, o reconhecimento, a humildade, a gratidão, a união. Não deixar ninguém para trás, nem nos limitar ao que nos agrada.
A cada reunião estamos diante de novas pessoas. Talvez parecidas com quem conhecemos em situação anterior, talvez muito diferentes – o fato é que não podemos nos enganar com a ilusão confortável de que estamos diante dos mesmos. Cada dia estamos em contato com os mais variados estímulos, nos instigando a diversas percepções. A depender dos nossos pensamentos e emoções, temos oportunidade de novas compreensões e, assim, novas reflexões e ressignificações. Mas pouco espaço damos a essas energias renovadas e positivas por exigir um tempo, um esforço, uma contextualização que nossa sociedade se nega a considerar. Optamos por engessar produtos e serviços medianos – que atentam critérios, linguagens, necessidades gerais ou de uma parcela de pessoas. Não nos dispomos a servir em mesma qualidade e temporalidade a todos porque não nos é conveniente. Sobrevivência. Será que esquecemos o que de fato precisamos? Materialidades ou Ecossistema? Trabalho ou Transdisciplinaridade? Capital ou Comunidade? Espaço ou Abrigo? Somos nômades por essência – seres vivos, sociais – precisamos nos movimentar, conviver, contribuir e contemplar. No entanto, nos condicionamos às mesmices individualizadas: os mesmos problemas, as mesmas angustias, as mesmas energias sendo dedicadas à conflitos por padrões lapidados em diferentes materialidades. Isso não nos diferencia, nos hierarquiza. Nos dedicamos a buscas diárias por novidades (e inovações) que nos (hiper) estimulem e superem o ontem mas, ao fim do dia, negamos a exaustão que cada vez mais nos sinaliza o limite Humano e Ambiental. Isso não é dedicação, é escravidão (mental). A vida e a Humanidade são naturalmente diversificadas, ao ponto que não deveríamos estar discutindo como nos diferenciar, nem como se sobressair perante uma concorrência. O que nos diferencia está intrínseco em cada um de nós. Somos bilhões de seres humanos, mas somos única espécie. Por que continuamos a nutrir a guerra, quando imploramos por paz? O tempo, a união, o respeito, o convívio, a escuta ativa, a compaixão, o acolhimento, a generosidade, a educação, a ressignificação, a transformação nos ajudam a encontrar o equilíbrio entre nós e nossos (eco)sistemas se nos permitíssemos viver a realidade, compreender as visões de mundo, promover a identidade dos lugares e dos seres.

IMAGEM: Ser Humano situado em um contexto presente, consciente de seu ecossistema. Em suspensão temporária de julgamentos, uma identidade se constrói a partir da escuta do conviver: tempo, entorno, desejos, necessidades, afetos e propósitos constituem os valores em discussão.
Confiança, empatia, verdade, solidariedade, compaixão, respeito movimentam as percepções e as escolhas. Adaptando, circulando, renovando, ressignificando, reconhecendo pelas mais variadas formas o Lugar, a Identidade em Luz, em pauta, em realidade.
Autenticidade, humildade, sensibilidade, essência vital garantem nossa melhor contribuição ao mundo. A inovação e a singularidade estão no coletivo, na Natureza, na nossa Integridade – na conexão de nossas virtudes em balanço aos nossos defeitos. Energias em circulação, energias em transição, somos maiores que a nós mesmos – somos parte de um todo: em complemento, em movimento, em motivação, em vitalidade – somos Vida, somos um.
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